descarregar o fígado…
Fazer um feedback ou uma denúncia já com o fígado recolhido vale muito mais a pena… deixa de ser uma descarga centrada em mim e passa a ser um serviço…
Fazer um feedback ou uma denúncia já com o fígado recolhido vale muito mais a pena… deixa de ser uma descarga centrada em mim e passa a ser um serviço…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 5, 38-48
«Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda»
Dar a outra face, podemos dizer, não é natural. É a chave, porém, para quebrar as espirais de violência que existem no mundo: as das guerras à escala dos países mas também as das pequenas guerras do dia-a-dia. Dar a outra face não é ser ingénuo, nem tão pouco forçar relações inconvenientes ou não queridas. Dar a outra face é até compatível com naturais maus sentimentos por outras pessoas. A originalidade está no coração, na abertura, na oportunidade que sempre podemos reservar para quem nos faz mal. Rezar por quem nos ofende é também um caminho que podemos percorrer, neste difícil mas libertador desiderato do perdão.
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
L 1 Lv 19, 1-2. 17-18; Sl 102 (103), 1-2. 3-4. 8 e 10. 12-13
L 2 1Cor 3, 16-23
Ev Mt 5, 38-48
Desmontemos a palavra bionanotecnologia, que traduz um paradigma científico e tecnológico contemporâneo: «bio» é o prefixo de biologia e relaciona-se com as ciências da vida e, em particular, da vida humana. «Nano» é o prefixo de nanómetro (10exp(-9) do metro, isto é, 1 nanómetro = 0,000 000 001 m) — esta é a escala de alguma tecnologia contemporânea. «Nanotecnologia» significa manipulação da pequena escala, como nanotubos e nanochips. Manipular materiais e sistemas vivos a esta dimensão poderá revolucionar a ciência e particularmente a saúde. Não é difícil imaginar parte da medicina actual a ser substituída por uma engenharia baseada na bionanotecnologia. A visita de um doente com cancro a um engenheiro biomédico, no futuro, pode resultar na recomendação de um nanochip capaz de actuar especificamente ao nível de células malignas, evitando os efeitos secundários de uma quimioterapia. Artigos científicos contemporâneos, porém, já falam em nanomotores e nanorrobôs. A manipulação à escala nano parece florescer com boas possibilidades de sucesso. Seria ingénuo, contudo, pensar que o problema da saúde (ou o da morte) ficaria resolvido com a bionanotecnologia…
Fomos expulsos do Paraíso do Éden para ver melhor e cimentar o desejo. Como um filho sai do útero materno: arrisca-se a dor da liberdade e o choro do respiro, para crescer, olhar a Mãe e sempre querer voltar… Nascer, bem entendido, não é uma punição, antes uma benção…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 5, 17-
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar»
Uma das dicotomias mais evidentes do cristianismo é aquela entre continuidade e descontinuidade. Não é possível ver, ler e relacionar-se com Jesus sem este lastro tensional entre continuar e descontinuar. Pode dizer-se de outro modo: herdar e recriar, tradição e inovação… ou manter versus revolucionar. O judaico-cristianismo é o mar desta sinfonia. Se nos cruzarmos com os evangelhos não podemos ficar indiferentes ao sentido descontinuista de Jesus de Nazaré: as suas denúncias do que está mal, as suas constantes críticas religiosas, o sentido crítico do legalismo, a forma como quase sempre “vira de pernas para o ar” o status quo. Por outro lado, Jesus assume-se como Judeu que é, encarna no fio da história e entra na viagem do tempo e do espaço. A morte por amor, e morte de cruz, pode ser lida como a verdadeira revolução (ressurreição) na continuidade do que somos (morrentes). A cada um de nós, por inspiração cristã, cabe discernir onde quebramos e onde continuamos, para dar sentido à nossa vida a à vida do mundo. Os extremos, quer personologicamente, quer socio-politicamente, serão tipicamente menos cristãos e humanos. A radicalidade que importa é outra coisa: é a radicalidade desse mesmo discernimento amoroso…
L 1 Sir 15, 16-21 (15-20); Sl 118 (119), 1-2. 4-5. 17-18. 33-34
L 2 1Cor 2, 6-10
Ev Mt 5, 17-37 ou Mt 5, 20-22a. 27-28. 33-34a. 37
Um dos «mitos» dos nossos tempos, que tem vindo a ser esclarecido, é entender a Idade Média como estagnação. É hoje consensual que a Idade Média (cerca de mil anos da nossa história), conhecida, por vezes, como «Idade das Trevas», não foi tão estática ou retrógrada quanto isso. Temos de nos colocar nos devidos contextos culturais para compreendermos melhor a razão de ser dos factos históricos. Durante esses anos o Homem fez o que lhe foi possível, com os conhecimentos, tecnologias, critérios e possibilidades da época. São impressionantes, por exemplo, os desenvolvimentos a nível da linguagem. A língua portuguesa (e muitas outras europeias) nasceu e cresceu, no seu essencial, durante a Idade Média. Nesta mesma fase longa da nossa história se estabeleceram as bases para a eclosão da ciência, tal qual a conhecemos hoje.
Falta a muitos cientistas uma profundidade elementar sobre a ciência que praticam. A inevitabilidade epistemológica (a pergunta “o que é a ciência?”) é tao fulcral e inesgotável para um cientista como é para todos os humanos a pergunta existencial “quem sou eu?” …
Às vezes distraio-me na comparação da minha realidade cultural ou estética com outra qualquer. Inspira-me aquela simples pergunta: “será uma baleia mais importante que um carapau?”…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Cor 2, 1–5
«apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor»
É curioso reparar na explicitação de Paulo em relação aos seus sentimentos e emoções enquanto protagonista da atividade apostólica. Ele não se reconheceria como o ‘herói de Cristo’, sem mácula e sem dúvidas, mas o ser frágil que se faz forte pela esperança e não pela impecabilidade. “Não me apresentei com sublimidade de linguagem ou sabedoria”, diz Paulo, como que dizendo que para se ser apóstolo não é preciso dons extraordinários mas antes humildade e confiança, fé num Deus que é amor e que se quer revelar a todos, por via de cada um de nós. A experiência de seguimento cristão poderá tornar-nos, em certo sentido, ‘maiores do que nós mesmos’. Mas o ponto de partida desse crescimento é, precisamente, a consciência de fraqueza e de fragilidade.
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
Na folha seguinte a grelha de feito/não feito.
L 1 Is 58, 7-10; Sl 111 (112), 4-5. 6-7. 8a e 9
L 2 1Cor 2, 1-5
Ev Mt 5, 13-16
Enquanto professor de ciências, estou consciente de que a ciência, que exerce fascínio sobre mim, é o pretexto de desideratos mais profundos. Por mais que se entusiasme e entusiasme pela ciência os seus alunos, o professor que foque apenas os conteúdos científicos tem os horizontes limitados. Uma analogia: comer sardinha tem toda uma contextualização de cheiro, sabor e emoção. Está claro que sem sardinha não há sardinha (…), como sem ciência e sem saber ciência não há professor de ciências. Mas comer sardinha é mais do que a sardinha que se come. Assim também, ser professor de ciências é mais, muito mais, do que a ciência que se ensina…