a ti que sofres
A TI QUE SOFRES
A ti
que sofres
não te peço
que não chores.
Que não chore
não há quem.
Que chores,
não te peço também.
Peço-te…
que chores… bem!
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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poeta parado
POETA PARADO
O poeta parou
para marchar!
Acerta o passo
sustém a guerra.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
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morte suave
Morte suave
futeboleno
NOTA: O futeboleno é um composto químico muito interessante. Foi sintetizado laboratorialmente mas conhecessem-se vestígios não artificias no espaço. É composto por 60 átomos de carbono, disposto como numa bola de futebol… daí o seu nome…
Compostos semelhantes ao C60 resultam em materiais tão duros que riscam o diamante. O diamante, composto também constituído apenas por átomos de carbono, perde, assim, o estatuto do mais duro material existente…
Futeboleno
Criado
existente
no espaço
(além Sol)
presente…
Magia,
bola de
futebol.
Pentágonos,
hexágonos,
invenção
pré-existente.
Fascínio
verdade
nano-utilidade…
Potente
futuro
sagaz
elementar
e galante.
Tão duro
capaz
de riscar
diamante…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
criança na aldeia e tablet
CRIANÇA NA ALDEIA
Criança suja
de alma sã
corre pelo mato
logo de manhã.
Regressa tarde
já com o Sol deitado
com os pés descalços
e o corpo cansado.
Brinca de improviso
e cata piolho
come arroz com massa
sem carne e sem molho.
Rosto maltratado
nariz por assoar
foge até ao rio
p’ra se refrescar.
Foge até ao rio
p’ra se refrescar!…
NOTA: Escrevi este texto há mais de uma vintena de anos, com memórias de infância quase cinquentenárias.
Hoje, morando numa aldeia, talvez escrevesse:
foge até ao tablet
p’ra comunicar.
Foge até ao tablet
p’ra comunicar!…
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
a química e a pressa
A química e a pressa
A pressa
é o pecado
do mundo.
Pecar,
fazer mal a mim
e a ti,
é não esperar
e catalisar
o que tinha
mecanismo
previsto
com aquela ativação.
Para quê
baixar em força
aquele valor?
Mais valia deixar,
deixar em amor.
Subir como criança
a brincar
que vai ao alto e,
passando a barreira,
ali contempla
confia e delega.
E desce a rir
…como num escorrega…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
o que é rezar?
O que é rezar?
Rezar é um deserto.
É criar vazio,
preparar o receber,
estar aberto.
Rezar é desencher.
Rezar é treinar a sede.
É desacansar
na confiança.
Rezar é embalar-se
numa rotina.
Rezar é esperar
e deixar-se ser.
Rezar é procurar
o procurante
que há em nós.
Ir mais além,
procurados
por Alguém…
setembro’ 2018
agressivo silêncio
AGRESSIVO SILÊNCIO
Esbofeteaste-a
violentamente
com o teu silêncio.
Foram as não palavras
que a feriram.
Essa tua boca fechada
mordeu e arrancou a carne
do diálogo surdo.
Engoliste a chave
do teu coração.
E é essa indigestão
que mata a vossa
(não) relação!
2011
Transformação
A transformação
do mundo
é a quimica
das reações:
reagente- já
produto- ainda não.
Dinâmico movimento.
Só aparente fim
em incessantes
micro transformações,
discretas
aparentando
deixar tudo na mesma.
Sem olhos químicos,
o mundo soa mais triste,
como se tudo
estivesse de mal a pior.
Mas não:
a internet e a televisão
catalizam a reação.
É tudo mais
rápido, alucinante
mas sempre:
reagente- já
produto- ainda não.
Que bom ser químico
… e saber
que o dilema é cinético,
termodinâmica não: homem e natureza,
…união.
Sempre:
reagente- já,
produto- quase já,
mas ainda não!…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)