Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração

J. C. Paiva, Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração. Site PontoSJ (que se recomenda…). 05 de outubro de 2018.

 

Disponível aqui

 

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As relações entre ciência e religião, ontem e hoje, são marcadas por certa tensão.

A ciência tem nos nossos dias um valor social impressionante. Tal circunstância, sem escamotear os óbvios benefícios da empresa científica, favorece o perigo de a transformar numa ideologia (cientificismo). Assim não deveria ser pois não podemos extrair, pela via filosófica, pelo seu saber ou pelas suas atividades, qualquer ilação ideológica à ciência. Pelo contrário, parte das enormes virtudes da ciência, no seu nascimento, no seu desenvolvimento e na sua prospetiva devem muito à sua independência dos regimes, das ideologias, das raças e crenças dos cientistas. Ajuda muito esta clarificação pois na maior parte das discussões desnecessariamente divergentes sobre ciência e religião, está (erradamente) a usar-se a ciência como uma ideologia. Muito ganham os cientistas em reconhecer as limitações deste tipo de conhecimento, que caminha como um olhar, entre outros, sobre a realidade cósmica, incluindo o homem. A par da ciência, outros questionamentos, como o ético, o artístico e o religioso, cruzam-se na nossa consciência pessoal e coletiva.

Tão venenosos como a ideologia cientificista são todos os fundamentalismos do tipo religioso.

Na tentativa de clarificar essa complexa relação, o físico americano Ian Barbour propôs, nos finais do século XX, quatro dimensões, a saber: conflito, independência, diálogo e integração.

1- Conflito.

As situações de conflito são conhecidas na história da ciência. O caso Galileo é sobejamente conhecido (não necessariamente bem compreendido, já que os conflitos gerados podem ter mais a ver com contextos históricos da reforma e contra-reforma do que com ciência e religião). Ainda hoje, nas redes sociais, em livros e no senso comum, há espaço de conflitualidade. Muitos desses aspetos residem em posições extremadas de materialismo científico e de fundamentalismo religioso, principalmente relacionado com a literalidade dos textos sagrados. Por vezes, sob uma capa aparentemente inofensiva, os comunicadores de ciência deixam passar alguns traços de fundamentalismo ideológico. É o caso do brilhante Carl Sagan que, a dado passo, escreve: “o Cosmos é tudo o que existe, que existiu e que existirá!”…

2- Independência.

Focados nas diferentes linguagens, metodologias, limitações e objetos de estudo podemos valorizar essas mesmas diferenças e associar independência (ou autonomia) a estas duas áreas: ciência e religião. Esta consciência de autonomia vem do tempo medieval, onde já se dizia que o livro da natureza e o livro da revelação são do mesmo autor (…) e, como tal, não se podem contradizer.  Inclui-se na independência da ciência o sacudimento de quaisquer secularismos. João Paulo II explicitou-o bem: “ciência e religião devem preservar a sua autonomia e a sua peculiaridade. Cada uma tem os seus próprios princípios e formas de proceder”. Podemos ter posições excessivas no que concerne à dimensão da independência, que colocam a tónica numa tal diferenciação que tange a esquizofrenia. Neste sentido, o físico Plank radicaliza a autonomia com a ideia de que ciência e religião são duas vias paralelas que só se encontram no infinito. Nem tanto, talvez haja algum entrançado..

3- Diálogo.

Se a dimensão de independência é tomada radicalmente, nem sequer há espaço para o conflito. O diálogo entre ciência e religião é possível e porventura necessário e útil porque há que construir pontes na diferença. Não dialogar (encrostados na radical autonomia) faria lembrar os casais que não discutem, não conflituam e não dialogam… porque não falam nos assuntos de potencial fraturante (condenação ao fracasso relacional, como sabemos…). Uma das formas de entender o manancial de diálogo entre ciência e religião é compreender estas realidade no contexto mais amplo da noção de cultura. O caldo cultural, onde se misturam a realidade da vida, as relações, a arte e tudo mais que disser respeito à humanidade, ai se entendem melhor as urgências dialogantes, incluindo aquelas que dizem respeito às diferentes perspetivas do olhar científico e do olhar religioso. A neutralidade não é boa conselheira… Apesar das diferenças nos seus aspetos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, ciência e religião têm matizes comuns, correlações e paralelismos potenciais, concretamente face às grandes questões relacionadas, por exemplo, com a origem do universo e com a evolução humana.

4- Integração

A integração seria uma dimensão um tanto mais comprometedora entre ciência e religião. É, porventura, destes quatro enunciados, a área mais polémica. As teses integrativas arriscam beliscar a autonomia. Há exemplos de boas e mais duvidosas integrações. Parece-me cheia de potencial, por exemplo, a abordagem de Chardin que se inspira nas teorias da evolução para dar novos ventos à teologia, principalmente no que diz respeito ao pecado original. Já considero muito duvidosas, senão perniciosas, as influência da teoria do “design inteligente”, que estabelece veleidades integrativas com base numa perfeita confusão entre o objeto e a metodologia da ciência e as questões últimas que importam a fé. É bom, por isso, não omitir o que é diferente, preferindo, sempre que possível, a linguagem da analogia, em vez da inferência. Por exemplo, dizer: “assim como a espécie humana parece em constante evolução, podemos, por analogia, referir-nos aos dinamismos evolutivos da própria vida de Cristo” será mais prudente do que invocar, em excessividade integrativa ideias do tipo “como a ciência descobriu a teoria do big-bang, então existe Deus”.

A proposta de Barbour, um cristão da Igreja reformada que venceu o prémio Templeton, é bastante útil embora não elimine as ambiguidades: há ideias e argumentos que vistas de um certo ângulo, se situam numa área de conflito mas que, noutra perspetiva, poderão, por exemplo, ter certo caráter integrativo. Notar ainda que não há qualquer cronologia histórica (do conflito à integração) nem sequer juízo de valor sobre estas quatro dimensões. Nos nossos dias, há aspetos de algum conflito no terreno misto da ciência e da religião, no domínio ético, por exemplo, que são compreensíveis e têm de ser assumidos.

Há autores que preferem a explicitação de uma outra (quinta) dimensão, algures entre o diálogo e a integração, a que chamam complementaridade. Trata-se de uma abordagem curiosa, convidando a uma compatibilidade mutuamente potenciadora, como acontece, por exemplo, com a religião e a arte.

Sem, obviamente, dependermos da ciência para suportar a nossa fé, é também certo que esta forma de olhar e compreender o mundo que é praticada pelos cientistas nos pode induzir aprofundamentos de natureza religiosa. Notar que a ciência tem uma forte componente de procura e encontro com a beleza, na beleza que é o universo (assim também é com Deus, que é cúmplice do belo…).  Do ponto de vista filosófico, também o conhecimento científico pode levar-nos à religião, desde logo porque o mistério de conseguirmos tatear o funcionamento do cosmos nos pode convidar a encontrar uma causa última que justifique a nossa própria racionalidade. Subindo a parada, um mundo contingente e inteligível, como  constatamos e sentimos, abre hipóteses a um Deus necessário e racionalizável…

pegadas em areia molhada

É um previlégio enorme haver espaço na areia molhada da praia para as minhas e para as tuas pegadas. Espaço imenso e dinâmico, onde cabe sempre mais um par de pés para fazer caminhos. Se por hipótese (quase absurda) saturassem as marcas côncovas no solo, viria o mar em ondas refazer espaço, por cortesia da Lua, mãe das marés…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 12 Outubro, 2018

Bíblia e texto

A Bíblia não é para ser lida literalmente, como, em verdade, quase nenhum texto (nem talvez o científico e nem mesmo o jurídico, em bom rigor…). A palavra texto tem cumplicidades com têxtil, fazendo lembrar os fios que se entrelaçam, as histórias que se apresentam, as mensagens que se insinuam. Tudo envolvido na subjetividade de quem tece, de quem escuta e de quem vive as palavras, assim vivas…

JP in Espiritualidade Frases 10 Outubro, 2018

o que é rezar?

O que é rezar?

 

Rezar é um deserto.

É criar vazio,

preparar o receber,

estar aberto.

Rezar é desencher.

Rezar é treinar a sede.

É desacansar

na confiança.

Rezar é embalar-se

numa rotina.

Rezar é esperar

e deixar-se ser.

Rezar é procurar

o procurante

que há em nós.

Ir mais além,

procurados

por Alguém…

 

setembro’ 2018

 

JP in Espiritualidade Poemas 4 Outubro, 2018

vida imposta

Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.

JP in Educação Espiritualidade Frases 2 Outubro, 2018

ensinamentos da terra

Sempre que posso falo com a natureza e vejo que ela tem muito para me dizer: a paciência, a beleza, a abundância, a contingência e, talvez principalmente, a morte das plantas rendidas ao nitrato que são, para o Natal de mais vida…

JP in Espiritualidade Frases 1 Outubro, 2018

Recensão – A Ressurreição e o fim dos tempos (P. Vasco Pinto Magalhães sj)

Recensão do livro:

 

A Ressurreição e o fim dos tempos

(a morte como abertura a Deus)

Vasco Pinto de Magalhães sj,

Tenacitas, 2018

 

in Brotéria, V. 187. julho’ 2018, p. 144

 

 

O Padre Vasco dispensa apresentações biográficos mas gostava de afirmar, neste contexto de tanta inspiração em Teilhard, que, também ele, como Chardin, tem três pilares curriculares relevantes: a simpatia pela ciência e pela tecnologia (foi estudante de engenharia), a formação teológica e a filosofia, que lhe foram oferecidas na formação jesuítica (sempre continuada). Acresce-lhe a experiência de escutante e acompanhante, a generosidade na vida e, no palco deste livro, a forma como, qual artesão, constrói palavras e novas formas de dizer o que é essencial. Este seu exercício em muito nos pode ajudar.

 

Desde já, muito suspeitamente, aconselho este livro. Talvez não em pico de sofrimento, de luto ou em vésperas de morte física, mas antes disso, em chave profilática. Arrisco uma analogia: assim como na educação familiar, a agudeza da adolescência se previne no amor generoso da infância, leia-se esta obra desde já, antes mesmo de estarmos perto de ser pó ou de assistirmos à morte dos que amamos. Não nos poupemos de pensar a vida porque a morte é certa.

 

Este é um livro quase indisciplinado. Poderia ter uma organização completamente diferente. Pode ser lido de trás para frente, a eito, de uma assentada, ou em peças avulso. Tem redundâncias (como as tem toda a obra escrita do Padre Vasco Pinto de Magalhães), ataques em espiral e quase repetições, o que não é relevante, pois a morte, como a vida, é também assim: vamos e estamos a morrer, a viver e a morrer…

 

Escolheria uma palavra e um conceito para resumir o livro: a palavra é relação. O Padre Vasco “abusa”, neste livro e não só, da palavra relação. Corpo é relação, pessoa é relação, alma é relação. Deus, que é aquele que É, revela-se na relação. Páscoa é relação e Ressurreição é relação.

 

Quanto ao conceito charneira, resumo assim: gerúndio. Este livro fala-nos de gerúndios. Estamos a acontecer, estamos a viver, estamos a morrer. Jesus está a ressuscitar e o fim dos tempos, está a acontecer. Pediria emprestado um neologismo curioso que anda nas entrelinhas desta obra: somos morrentes, antes mesmo de sermos moribundos. E vale a pena responder a esta realidade que somos sem evitar o tabu da morte. Se somos morrentes, com os olhos da fé, pois morramos por amor, e assim vivamos.

 

Merece destaque (p. 22), a propósito da reanimação (também ressureição, em chave mais profunda), a clarificação de corpo como o espaço das nossas relações. Mais uma ajuda, de boleia com S. Tomás, para dissipar vestígios ainda evidentes no catolicismo de uma dicotomia platónica que favorece um duvidoso substancialismo, da alma e dos demónios…

 

A recensão de um livro, por mais que admiremos a obra e o seu autor, como é o caso, fica incompleta sem um esgar critico. Permito-me, pois, sugerir a substituição da palavra ‘certeza’, no topo da página 27. Em vez desta, seja convicção ou mesmo fé, porque é isso mesmo que se quer dizer. Valorizo muito o item em causa, a recusa de um Deus que quisesse a morte dos justos e o sofrimento dos inocentes (não há teologia nem vida cristã com futuro que possa ser equívoca sobre um Deus de amor). Mas tal colocação, é, precisamente, a nossa fé.

 

O livro é para o grande público mas não deixa de projetar uma reflexão filosófica séria e profunda, com referências de contraditório como as de Sartre, Bloch (o filosofo da esperança sem Deus) ou Heidegger. E se este não fosse um livro de bolso, bem poderia tocar Martin Buber ou Levinas, ou mesmo o filósofo austríaco Ebner, porventura o pai da filosofia dialógica.

 

Mas salientam-se sempre as palavras certas, justas e simples, que a cada passo resumem o essencial: “Na hora da nossa morte (e da morte dos que amamos, digo eu), que é cada minuto da nossa vida, só fazem sentido os passos que foram mortes que geram vida, isto é, que foram ao encontro do outro (p. 108). Eis, pois, a revitalização da boa mortificação! (p. 47)

 

Chardin está sempre presente, muito mais do que quando é explícito, como na página 71, quando se escreve que o homem está em processo de transformação personalizante (mais um gerúndio…). A convergência da cosmogénese com a antropogénese e a cristogénese, referidas no início como fonte, jorra depois em todos os capítulos.

 

O mais central dos gerúndios que se arrasta na obra, desde o título até ao fim, pode exprimir-se na recreativa expressão (mais uma) da página 55: “Ressureição-já”. Não sendo um livro estrito sobre Ressurreição, poderemos inspirar-nos na nossa colocação face à tensão teológica constante entre a fisicalidade e o valor simbólico dos relatos bíblicos. Podemos, pelo menos, desvalorizar a questão da fisicalidade da Ressureição e acentuar o que este livro nos convida a sublinhar: Jesus está a ressuscitar, pedindo a nossa abertura às relações que cristifiquem, a vida e morte. Assim vale a pena e tem sentido ir morrendo-vivendo e, como se lê na última página, retomando em ómega o alfa do livro, “o fim do mundo será já”, mas ainda não…

JP in Espiritualidade Textos 1 Agosto, 2018

prece…

Rezo, pois, em silencioso grito, para que todos saibamos colher o momento presente, crescer com o que aconteça, tomar a responsabilidade dos nossos atos, abrir os nossos olhos e a inteligência ao discernimento que nos possa fazer boas escolhas, face aquilo que está nas nossas mãos (uma minúscula parte do dinamismo da
realidade).

Pró-ativos mas em paixão (passiona, passivos, em aceitação…), assim, abertos à graça, saboreamos já aperitivos de paraíso, sem pedinchar quase que manipulativamente uma intervenção mágica que Deus, omni(im)potente, por mistério amoroso, parece não apreciar…

2013

JP in Espiritualidade Frases 28 Julho, 2018

Palavras no Tempo

Palavras no Tempo – Diálogos entre ciência, religião … e não só…

 

O projeto Palavras no Tempo, a decorrer desde 2014, é uma iniciativa de cariz cívico e cultural que teve a sua génese na obra Educação, Ciência e Religião (2012), na sequência da qual se promoveram inúmeras sessões e debates que resultariam numa parceria entre a Universidade do Porto, a Universidade Católica e o Centro Nacional de Cultura, que patrocinam a ideia. Palavras no Tempo consiste na realização de conferências e debates, bem como em sessões de reflexão e formações, em torno de múltiplas aproximações à religião e à cultura, envolvendo o olhar reflexivo em várias áreas, perspetivado sob o ponto de vista de crentes e de não crentes.

Todos os temas são pretexto de conversa e cidadania, na base comum dos direitos humanos e do respeito pela diferença. O cerne deste projeto é dialogar, no eixo da crença e da não crença. Thomas Halik (2013) diz bem que a crença e a não crença são dois olhares arriscados sobre o mesmo mistério e, quando nos abrimos, sentimo-nos muito mais próximos uns dos outros, sem rótulos, mais solidários e com mais futuro.

Palavras no Tempo recria estilos de comunicação e diálogo de outros tempos, contextualizados à nossa realidade de hoje, carente ainda de efetiva reflexão e debate, apesar do ruído dos media. No âmbito deste projeto, são dinamizadas várias conferências/debates, focados regionalmente, com o apoio das respetivas câmaras municipais, das universidades, das escolas e de outras instituições de cada região.

Desde 2014, têm sido realizados diversos eventos no âmbito do projeto Palavras no Tempo, quer conferências/debates mais direcionados para o público em geral, quer sessões dirigidas a alunos de escolas secundárias, quer formações para professores. O evento “Educação, Ciência e Religião”, cuja primeira ocorrência teve lugar no Cineteatro de Anadia, a 23 de maio de 2014, com a participação de João Paiva e Aniceto Carmo, é especialmente dirigido a alunos do ensino secundário e foi replicado em 18 escolas secundárias do Centro e Norte do país: Escola Secundária de Oliveira do Bairro, Escola Secundária José Macedo Fragateiro (Ovar), Escola Secundária de Cantanhede, Escola Secundária de Estarreja, Escola Secundária Joaquim de Carvalho (Figueira da Foz), Escola S/3 Arquiteto Oliveira Ferreira (Vila Nova de Gaia), Escola Secundária de Santa Maria da Feira, Escola Básica e Secundária de Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis), Escola Secundária de Montemor-o-Velho, Escola Secundária Manuel Laranjeira (Espinho), Escola Secundária Clara de Resende (Porto), Escola Secundária de Penafiel, Escola Secundária José Falcão (Coimbra), Escola Secundária António Nobre (Porto), Escola Secundária Aurélia de Sousa (Porto), Escola Secundária Fontes Pereira de Melo (Porto), Colégio Nossa Senhora da Paz (Porto), Escola Secundária Carlos Amarante (Braga). Além das escolas secundárias mencionadas, também o Cineteatro de Albergaria acolheu o evento “Educação, Ciência e Religião” para um público mais alargado. Entretanto vários outros colaboradores, em diferentes posições no eixo crença/não crença, se associaram ao projeto: Rui Trindade, José Luís Santos, Maria Manuel Jorge, Pedro Lind ,Pedro Pimenta, João Correia de Freitas, Vitor Teodoro, João Frade e Carlos Fontes.

“Religião, Ciência e Cultura” é um evento dirigido especialmente à comunidade docente e consiste numa formação creditável (Despacho n.º 5741/2015) para professores de todos os grupos disciplinares. Foram realizadas até ao momento nove formações: Escola Secundária Manuel Laranjeira (Espinho), Escola Secundária de Penafiel, Escola Secundária José Falcão (Coimbra), Instituto Superior de Administração e Línguas (Funchal), Seminário do Vilar (Porto), Colégio de Nossa Senhora da Paz (Porto), Escola Secundária de Paredes, Escola Secundária Aurélia de Sousa (Porto). Até final de 2016, estão previstas mais duas formações, em Abrantes e em Anadia.

O evento “Razões de (des)crença”, direcionado para um contexto paroquial, foi realizado em 7 paróquias: Oliveira do Bairro, Ovar, Cantanhede, Estarreja, Figueira da Foz, Albergaria, Paróquia da Boavista (Porto). Também para um público eminentemente paroquial, foi concebido o evento “Workshop catequese e cultura científica”, dinamizado em 6 localidades: Figueira da Foz, Vila Nova de Gaia, Albergaria, Santa Maria da Feira, Espinho, Porto (Paróquia do Cristo-Rei).

O evento “Para quê Deus se temos Ciência?” realizou-se no Colégio de Famalicão (Anadia), na Escola Superior de Enfermagem S. José de Cluny e na Escola da APEL (Funchal).

As conferências/debates, alicerçados no binómio crença/não crença e dirigidos ao público em geral, são o evento aglutinador e o móbil de reflexão em cada uma das localidades por onde o projeto Palavras no Tempo vai passando. Estes eventos decorreram, de forma descentralizada e itinerante, em diversos espaços culturais e educativos do Centro e Norte do país, com a participação de palestrantes convidados, homens e mulheres de qualidade e prestígio nas várias áreas da cultura e da ciência. Até ao momento, foram realizados 17 eventos desta natureza:

  • Religião e Ciência, com Carlos Fiolhais e João Fernandes (Anadia)
  • Religião e Política, com Carlos Abreu Amorim e José Manuel Pureza (Oliveira do Bairro)
  • Religião e Economia, com Augusto Santos Silva e João Duque (Ovar)
  • Religião e Maçonaria, com Henrique Monteiro e João Conduto (Cantanhede)
  • Religião e Afetos, com Maria Belo e José Frazão (Estarreja)
  • Religião e Justiça, com Laborinho Lúcio e José de Souto Moura (Figueira da Foz)
  • Religião e Sexualidade, com Gabriela Moita e Miguel Almeida (Vila Nova de Gaia)
  • Religião e História, com Fernando Rosas e José Eduardo Franco (Albergaria)
  • Religião e Mulher, com Teresa Lago e Teresa Toldy (Santa Maria da Feira)
  • Religião e Poesia, com Jorge Melícias e José Rui Teixeira (Oliveira de Azeméis)
  • Religião e Islão, com Paulo Mendes Pinto e Abdul Rehman Mangá (Montemor-o-Velho)
  • Religião e Educação, com Luís Grosso e Joaquim Azevedo (Espinho)
  • Religião e Portugal, com António Barreto e Manuel Clemente (Porto)
  • Religião e Neurociências, com João Relvas e Joana Castelo Branco (Coimbra)
  • Religião e Bioética, com António Vaz Carneiro e Walter Oswald (Porto)
  • Religião e História da Ciência, com Henrique Leitão e Amélia Polónia (Porto)
  • Religião e Ecologia, com Filipe Duarte Santos e Paulo Borges (Braga)

No âmbito destas conferências/debates, estão agendadas ainda as seguintes:

  • Religião e o Corpo na iminência da morte, com Paulo Tunhas e Edna Gonçalves (Abrantes)
  • Religião e o Céu, Joaquim Fernandes e Bruno Nobre (Anadia)

A título de exemplo, apresenta-se o resumo do primeiro dos debates, com Carlos Fiolhais e João Fernandes:

“No âmbito do projeto Palavras no Tempo, realizou-se, no dia 23 de maio de 2014, no Museu do Vinho da Anadia, a primeira sessão de um ciclo de debates que junta crentes e não crentes com o objetivo de promover a reflexão em torno da temática “Educação, Ciência e Religião”. Este primeiro debate, sob o título “Religião e Ciência”, contou com a participação de duas figuras do universo das Ciências: o físico Carlos Fiolhais e o astrónomo João Fernandes.

A primeira intervenção coube a João Fernandes, que começou por se apresentar como cientista e crente, argumentando não encontrar incompatibilidade entre estas duas dimensões estruturais da sua vida e sublinhando a ideia de uma convivência pacífica, dentro da comunidade crente, entre a Ciência e a Fé. Interrogando-se se haverá aspetos comuns ao facto de ser crente e ser cientista, encontra duas características: a liberdade e a responsabilidade, na medida em que ambas são pressupostos fundamentais da Ciência e da Fé.

Na sua intervenção, Carlos Fiolhais começou por frisar que, embora completamente distintas, com métodos e objetivos diferentes, Ciência e Religião têm em comum algo muito profundo, permitindo o diálogo: ambas correspondem a necessidades do Homem e ambas tentam fornecer sentido: “tentam penetrar no mistério, embora se trate de mistérios diferentes”. Acima de tudo, “são expressões de incompletude do ser humano, que precisa de mais alguma coisa…”

Recorrendo a uma perspetiva histórica desde os primórdios da ciência moderna, o físico explicou como, a partir de Galileu, se foi construindo e alimentando um embate e uma visão dicotómica entre Ciência e Religião, apesar de, para cientistas como Galileu, Newton e Darwin, ambas as abordagens não serem incompatíveis. Abordou também as polémicas mais recentes, suscitadas pelo evolucionismo, pelas neurociências e pelo ateísmo militante de alguns cientistas. A terminar a sua intervenção, Carlos Fiolhais avançou ideias sobre a questão “porque é que o diálogo entre a Ciência e a Religião é um diálogo não apenas útil, mas também necessário?”

Na parte final da sessão, o público confrontou os cientistas com questões em que se entrecruzam argumentos científicos e metafísicos: a origem do Universo, o acaso, e onde fica o espaço para a fé depois de a ciência tudo explicar?”

 

Desde 2014 até ao final de maio de 2016, foram dinamizados, no âmbito do projeto Palavras no Tempo, 64 eventos distribuídos por em 18 localidades: Albergaria, Anadia, Braga, Cantanhede, Coimbra, Espinho, Estarreja, Figueira da Foz, Funchal, Montemor-o-Velho, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Ovar, Paredes, Penafiel, Porto, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Gaia. Quantitativamente, as pessoas abrangidas pelos 64 eventos até agora dinamizados, apontam para a seguinte quantificação:

Número aproximado de eventos: 80

Número aproximado de Professores: 800

Número aproximado de Alunos: 4000

Número aproximado de Outros Públicos: 2400

Número aproximado de Total de públicos envolvidos: 7200

Embora o impacto destas iniciativas não seja objetivamente mensurável, é nossa convicção de que estes eventos promovem nos seus públicos um alargar de horizontes, quer em termos culturais, quer em termos reflexivos, desencadeando aquilo a que poderíamos chamar de ‘desbloqueamento intelectual’, com potencial apostólico.

Espaços para a reflexão, para o diálogo e para a ação continuam urgentes. Terão sido acutilantemente inaugurados na nossa cultura por Humberto Eco e Cardeal Martini (2000) mas não é certo que se tenham esgotado na sua intenção cultural. A crença e a não crença são dois ângulos diferentes que olham o mesmo mistério. Somos feitos para a busca. Crentes e não crentes instalados entenderão este projeto como irrelevante. Com Palavras no Tempo, nada mais se pretende que um bom diálogo para robustecer a ação. O olhar para o universo, deixa-nos deslumbrados, encantados e quase oprimidos, mas necessariamente questionantes (Artigas, 2000). Teilhard de Chardin (2000) convida-nos a libertar as dicotomias, as do mundo e as do espírito, as do princípio e do fim, as do corpo e as da alma, as do universo e da Criação, as dos crentes e dos não crentes. Procuramos as “palavras”, neste “tempo” em que as múltiplas propostas precisam de se ouvir, de se questionar, de fluir na dialética entre o Eu e os Outros.

Mais detalhes e interações poderão ser consultados em www.pnt.up.pt.

 

 

Agradecimentos:

Além dos parceiros institucionais e do programa Ciência Viva, merece-me uma palavra particular de apreço o meu grande amigo Alfredo Dinis que, não estando já entre nós, goza com toda a certeza este projeto, que comigo sonhou. Saúdo de forma muito especial, igualmente, o Eng. Aniceto Carmo que, como não crente irrequieto e construtivo, tem competente e entusiasta protagonismo em muitas das iniciativas.

 

Referências:

ARTIGAS, M., The Mind of the Universe. Understanding Science and Religion, Templeton Press, 2000.

CHARDIN, T. de, «Cristianismo e Evolução. Sugestões para servir uma nova teologia» em A Minha Fé. A Matéria e Deus, Lisboa: Ed. Notícias, 2000.

DINIS, A. E PAIVA, J. C, Educação, Ciência e Religião, Gradiva, Lisboa, 2012.

ECO, H. e MARTINI, C., Em que Crê quem não Crê?, Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000.

TOMÁŠ HALÍK, Paciência com Deus. Paulinas, Lisboa, 2013.