Chardin e o dinamismo
Chardin rejeita o tomismo de ser a substância o cerne do assunto (um certo ‘coisismo’, digo eu). Ele incorpora o tempo, a mudança e a relação como constituintes de Deus e dos homens.
Chardin rejeita o tomismo de ser a substância o cerne do assunto (um certo ‘coisismo’, digo eu). Ele incorpora o tempo, a mudança e a relação como constituintes de Deus e dos homens.
É fraturante, no campo da antropologia, da biologia, da filosofia e de muitas outras áreas, a questão de saber se o Homem é “apenas” um animal mais evoluído. Isto é, se a diferença é apenas de grau, quantitativa, ou se há uma nuance de qualidade. Pessoalmente, entendo que o que distingue o homem é um espaço próprio de consciência. O homem sabe que é… Nas entrelinhas, posto isso, há na espécie humana um lastro de possibilidade de reconhecer um Criador, de alvitrar transcendência…
PS: …E nada contra a proteção dos animais (exageros à parte), que são elementos da criação, na proporção exacta do apontamento humanista, que sempre privilegia, justamente, a criatura humana.
A TI QUE SOFRES
A ti
que sofres
não te peço
que não chores.
Que não chore
não há quem.
Que chores,
não te peço também.
Peço-te…
que chores… bem!
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Vivemos tensionalmente entre um sentido preponderante (O sentido?…) e vários sentidos, que a realidade, a liberdade e o vento nos inspiram. O sentido (singular), não se impõe. Há um caminho libertador: fazer convergir os vários sentidos para O sentido que aponta o essencial…
Foi e é ainda polémica a famosa expressão do teólogo Rahner ‘Cristão anónimo’. Há quem ache que esta expressão tem um tom algo ofensivo, concretamente para os ateus que, em critério simétrico, poderiam invocar o “ateu anónimo” que existe em cada um dos crentes. Talvez melhor ‘a pessoa autêntica não religiosa’, que procura a retidão, a bondade, a justiça e que, nas suas circunstâncias e possibilidades, realiza um mundo melhor. Quantos admiráveis caminhantes neste perfil!
Já foi entendido em Roma que “não há salvação fora da Igreja”. O Concílio Vaticano II corrigiu esse enorme lapso e abriu porta à explicitação eclesial de que a Igreja não se confunde com o Povo de Deus, que é mais amplo. E não há evidência mais paradoxalmente identitária para a Igreja do que esta mesma, de quem se reconhece veiculante de um tesouro, mas aberta a um tesouro que a transcende…
Ainda em tempo de de-funtos (palavra de carga forte na sua raiz: deixar de funcionar…), uma reflexão sobre os que partem e a nossa relação com eles. Ouvi (ironicamente, numa homilia) que “devemos respeitar a vontade dos mortos”. Explícito a minha discordância. Os mortos que tenham tido desejos direcionistas, deveriam ter feito por executar em vida (ou testamentar) o que, na sua liberdade, entendiam por bem exercer. Com as ajudas que conseguissem, incluindo a nossa, bem entendido. Uma vez sendo não vivos, uma outra realidade se poderá associar à sua existência, certamente mais perto da verdade, do amor e da liberdade. Seria irónico (e conheço casos…) que alguns mortos continuassem a manipular os vivos, com desejos (ou caprichos…) manifestados antecipadamente. Há gente que deixa legados pantanosos do tipo ‘não fales com aquele’, ‘não vendas este terreno’ ou até ‘vai para este ou aquele curso’. São prisões sobre a liberdade de terceiros, proibidas pela própria liberdade. Pode estabelecer-se nos que ficam, principalmente em pessoas mais frágeis psicologicamente, um dinamismo de culpa espartilhante, que gera atavismos arrastados e desnecessariamente sofredores.
Morte suave
A vida está cheia de tensões. Fazer/não fazer, dizer/não dizer, permitir/anuir, agarrar/largar, etc. Seria ingénuo entender a liberdade como a fuga destas tensões. Ser livre é procurar encontrar ‘o mais’ que espreita em cada tensão e a essa arte se chama discernimento.
São precisas lideranças e lideranças mais fortes (não mais autoritárias). Nas escolas, nas famílias, nas comunidades e em muitas organizações.
São conhecidos e úteis os “5F” para liderança: Focus. Flexible .Fast. Friendly. Fun.
O último “F” não basta mas dificilmente se lidera sem divertimento, pelo menos interior. Poderíamos colocar os “5F” debaixo de um grande “S”: o do Serviço…