benção que nos habita
Procuramos a bênção como se ela fosse exterior, mas talvez devêssemos procurar, antes, o reconhecimento que já nos habita. E esta procura, por sua vez, tem uma lanterna paradoxal: não há bênção sem custo…
Procuramos a bênção como se ela fosse exterior, mas talvez devêssemos procurar, antes, o reconhecimento que já nos habita. E esta procura, por sua vez, tem uma lanterna paradoxal: não há bênção sem custo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o Slm 125
«Grandes maravilhas fez por nós o Senhor»
Ter fé, de alguma forma, é apoiar-se vivencialmente na ideia de que o amor é a última palavra e, portanto, Deus fez (e faz) maravilhas. O Salmo 125 coloca-nos num dinamismo que diz respeito à nossa vida: o salmista fala nos homens (nós) que “à ida vão a chorar” mas “à volta vêm a cantar”. Saber que o regresso é de júbilo torna possível e até animada uma partida sombria. Ter futuro, ter esperança no Senhor, ter certeza no cantar, suporta o nosso presente e ampara a nossa dor. Este processo repete-se em pequenos e grandes ciclos da nossa vida e, às tantas, o futuro e o presente confundem-se: chora-se cantando e vive-se a esperança. Andará por estes critérios a fé, a própria bem-aventurança da vida…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Jr 31, 7-9; Sl 125 (126), 1-2ab. 2cd-3. 4-5. 6
L 2 Heb 5, 1-6
Ev Mc 10, 46-52
Rhaner diz-nos que o apego obstinado aos dogmas nos leva mais à heresia do que à ortodoxia…
Há um lado meu que esteve, está e estará solenemente só…
É também aí, principalmente aí, que faço duas convocatórias:
a dos outros e a do totalmente Outro.
… e vivo menos só a minha soledade…
Entregue a este exercício, brotante da minha carente solidão, reconheço-me habitado por uma paradoxal e eterna Companhia…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o Slm 32
«A Terra está cheia da bondade do Senhor»
Sermos capazes de ver e saborear as coisas boas é um elemento fundamental do nosso crescimento espiritual. Os Santos, em particular, são contemplativos, isto é, tentam ver com os olhos de Deus. Podemos olhar a nossa vida, os outros, a História, as situações e a Terra, salientando no que vemos “a bondade do Senhor”, conforme as palavras do Salmo. Não somos ingénuos e sabemos da existência do mal, dentro e fora de nós. Mas não conseguimos caminhar sem “atestar o depósito” da alegria, com a “bondade do Senhor”. Há uma palavra curiosa, neste contexto, que se pode convocar: a “abundancialidade” (da criação contínua…).
PS: Há uma linguagem própria das escrituras e da religiosidade, que pode precisar de resignificação. A expressão “Senhor”, por exemplo, pode ser encarada e vivida espiritualmente como um caminho de recentramento no que é essencial, num “qualquer coisa Outro” (O Senhor – amoroso), que não eu próprio…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Is 53, 10-11; Sl 32 (33), 4-5. 18-19. 20 e 22
L 2 Heb 4, 14-16
Ev Mc 10, 35-45 ou Mc 10, 42-45
A nossa arte de ‘matutar’ não é necessariamente má. O que pode haver, é bons e maus ‘matutamentos’. O matutar para o empreendimento ético e de serviço é saudável. O matutar muito autocentrado e controlador será menos candidato a bons frutos…
As ciências, em geral, mas a biologia, em particular, no seu percurso histórico, começam a prescindir da metafísica. Melhor, substitui-se a metafísica filosófica por uma outra metafísica: a da crença na ciência, a da crença nas coisas… ainda que coisas com vida…
A química não foi semelhante à física ou a outras ciências no que concerne à sua história. Não se pode falar numa ‘revolução do tipo galilaica’, no caso da química. Pelo contrário, de forma muito contínua, a química vai-se instituindo enquanto ciência à medida que são tornados públicos os processos alquímicos e outras técnicas e procedimentos de misturas e produções. É desta popularidade, muito ligada ao quotidiano (aos metais e aos boticários, aos sabões e à cozinha…), de boleia com a imprensa e outros facilitadores de certa globalização, que a química se vai tecendo… Agrada-me participar numa ciência que nasceu tão participada…
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 17-30
«Vende o que tens e segue-Me»
O repto lançado por Jesus ao jovem rico é, também hoje, lançado a cada um de nós. Ao cristão que se encanta e se aproxima de Jesus, querendo segui-Lo, é sempre pedido mais, como convite de liberdade e não como jugo pesado. As riquezas de que fala Jesus não representam essencialmente, embora também, o dinheiro e as coisas. Temos riquezas quando estamos cheios: de objetos, de projetos, de instintos possessivos, de nós mesmos. E alguém cheio de coisas dificilmente passa por uma porta estreita. O sentido espiritual da entrega é ‘o depósito’ do nosso jugo no colo de Deus, deixando-nos leves para o amor. Para este exercício, há que praticar o verbo largar…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Sb 7, 7-11; Sl 89 (90), 12-13. 14-15. 16-17
L 2 Heb 4, 12-13
Ev Mc 10, 17-30 ou Mc 10, 17-27