lutar com o tempo…
Às vezes lutamos com o tempo. Não queríamos estar aqui e agora, mas adiante, noutro instante ou noutro lugar. Esta ‘birra’ leva-nos a que o tempo nos ultrapasse. Seria bem mais libertador ‘surfar’ no tempo…
Às vezes lutamos com o tempo. Não queríamos estar aqui e agora, mas adiante, noutro instante ou noutro lugar. Esta ‘birra’ leva-nos a que o tempo nos ultrapasse. Seria bem mais libertador ‘surfar’ no tempo…
Convém não confundir: a (teoria da) relatividade convida-nos a um outro olhar sobre o tempo que, como o espaço, se manifesta relativo, dependente de várias circunstâncias, não absoluto. Mas o relativismo (moral e filosófico), sem referências a nada absoluto, é outra coisa. Nem a analogia entre relatividade e relativismo é simpática pois na teoria da relatividade permanecem absolutos, como a velocidade da luz…
A complexidade escolar contemporânea é aguda. A escola é muito ‘porosa’ a toda a sociedade, particularmente pelo fluxo esmagador de informação por via tecnológica. Pede-se aos professores o impossível e, sem querer vitimizar a docência, admito que seja particularmente difícil nos nossos dias o desafio de educar em dinâmicas tão abertas. Mas espreita sempre a nobreza da educação: se a escola é porosa é porque a vida é porosa. E será na escola, precisamente, que muitos alunos poderão ganhar filtro e resistências culturais críticas, para se protegerem e saberem viver “porosamente”…
Tive o privilégio de fazer algumas viagens. O turismo, entretanto, virou moda (ou mesmo mania…). Hoje estou mais rendido ao turismo que a realidade me oferece, porventura mais centrado no meu país, na minha região, no meu quintal, naquele detalhe da natureza e dos rostos cruzantes, aqui tão perto. A realidade impõe-se bela e diversa e, vendo bem, o espanto do olhar está menos na circunstância e na geografia, e muito mais nos meus olhos…
Já foi entendido em Roma que “não há salvação fora da Igreja”. O Concílio Vaticano II corrigiu esse enorme lapso e abriu porta à explicitação eclesial de que a Igreja não se confunde com o Povo de Deus, que é mais amplo. E não há evidência mais paradoxalmente identitária para a Igreja do que esta mesma, de quem se reconhece veiculante de um tesouro, mas aberta a um tesouro que a transcende…
Há que manter a lucidez crítica do nosso ambiente familiar e, como devir civilizacional, peneirarmos o que é de mimetizar e transmitir a gerações seguintes e o que, pelo contrário, podemos interromper e não perpetuar.
PS: Ver texto desenvolvido em Genes, mimetização e lucidez crítica. Site PontoSJ (que se recomenda…). 19 de outubro de 2018.
Ainda em tempo de de-funtos (palavra de carga forte na sua raiz: deixar de funcionar…), uma reflexão sobre os que partem e a nossa relação com eles. Ouvi (ironicamente, numa homilia) que “devemos respeitar a vontade dos mortos”. Explícito a minha discordância. Os mortos que tenham tido desejos direcionistas, deveriam ter feito por executar em vida (ou testamentar) o que, na sua liberdade, entendiam por bem exercer. Com as ajudas que conseguissem, incluindo a nossa, bem entendido. Uma vez sendo não vivos, uma outra realidade se poderá associar à sua existência, certamente mais perto da verdade, do amor e da liberdade. Seria irónico (e conheço casos…) que alguns mortos continuassem a manipular os vivos, com desejos (ou caprichos…) manifestados antecipadamente. Há gente que deixa legados pantanosos do tipo ‘não fales com aquele’, ‘não vendas este terreno’ ou até ‘vai para este ou aquele curso’. São prisões sobre a liberdade de terceiros, proibidas pela própria liberdade. Pode estabelecer-se nos que ficam, principalmente em pessoas mais frágeis psicologicamente, um dinamismo de culpa espartilhante, que gera atavismos arrastados e desnecessariamente sofredores.
POETA PARADO
O poeta parou
para marchar!
Acerta o passo
sustém a guerra.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Morte suave
A vida está cheia de tensões. Fazer/não fazer, dizer/não dizer, permitir/anuir, agarrar/largar, etc. Seria ingénuo entender a liberdade como a fuga destas tensões. Ser livre é procurar encontrar ‘o mais’ que espreita em cada tensão e a essa arte se chama discernimento.